sábado, 23 de setembro de 2017

Peças, filmes e museu ridicularizando Jesus Cristo.

Provoca justificada indignação, ou desprezo das pessoas imensamente tolerantes, a insistência com que “artistas” — com ou sem talento —, procuram chamar a atenção do público ofendendo respeitadas ou até veneradas figuras religiosas; ou seres humanos de valor excepcional. Presumo que maioria dos agnósticos, ou ateus, reconhecem a grandeza espiritual de um ser como Jesus Cristo.

Você, artista, quer aparecer na televisão, jornais e revistas sem gastar com propaganda? É fácil: basta insultar, em peça teatral, museu ou filme, uma pessoa histórica considerada divina, ou semidivina, ou somente humana, conforme a opinião de cada um.

Lendo — em 21/09/2017 a página C7 do Caderno 2 do jornal “O Estado de S. Paulo” — somos informados que em 1971 o musical Jesus Cristo Superstar “provocou escândalo ao mostrar um Judas gay, traindo Jesus por ciúme de Maria Madalena”. O interessante é que o autor da “Análise” diz que “isso se chama literatura”.

Pergunta-se: com essa simplória desculpa pode-se colocar em peça teatral, show, ou filme, qualquer coisa, por mais desrespeitosa, ofensiva ou insultante que seja? Seria mental e moralmente honesto fazer, mero exemplo, um filme, confessadamente pornográfico, com cenas de vinte santos da igreja católica em bacanal de sexo explícito, bastando dizer que isso seria arte?

Quem pensa que a “liberdade da arte” tudo justifica, podendo transformar crimes em “obras artísticas”, não deveria se ofender nem recorrer à Justiça exigindo — esta seria a reação imediata — providências punitivas quando soubesse, atônito, que uma artista de teatro, parecidíssima com sua mãe, ou irmã, ou esposa, — pessoas conhecidas na mídia, até na revista “Caras” — surgisse na tela, sem prévia autorização, fazendo o papel de uma mulher da alta sociedade, dada como honestíssima, mas sendo, na realidade uma Messalina obcecada pelo sexo. Esse adepto absoluto da liberdade de ofender, digo, de “criar”, porventura logo se acalmaria se o autor da peça, ou filme, lhe dissesse que sua indignação era uma reação vergonhosa de ignorante, porque rebelava-se contra uma obra arte? Imaginemos o diálogo.

O ofendido, surpreso com a calma explicação do autor ou diretor da peça, perguntaria: — “O quê? Então é obra de arte?” — “Claro que é, meu inocente amigo!, diria o diretor. — “Oh! se é arte, mil perdões! Desculpe minha ignorância... Mas... Hum... não podia, pelo menos, um favorzinho, tirar aquelas cenas de nu frontal e sexo explícito da artista que é a cara da minha esposa na cena do bacanal?”. Responde o interlocutor: — “Não! Você me decepciona, como grande intelectual... Se eu atendesse ao seu pedido estaria castrando o pulsar artístico da peça. Onde está sua reconhecida visão e coragem de lutar pelo avanço da arte”

Por falar em coragem, cabe aqui a pergunta natural: por que o autor da peça não descreve Maomé como gay? Não seria por medo da severa reação dos muçulmanos?

 Como os católicos são tolerantes, mais mansos de coração, o uso das mais aloucadas suposições deve ser sempre tolerado? Contra o fundador do Cristianismo pode-se inventar tudo? Há, por acaso, alguma pesquisa histórica séria dizendo, ou mesmo sugerindo, que Jesus comportava-se como gay? Poderia uma outra peça apresentá-lo como chefe de uma organização criminosa tendo Judas como “operador”? O autor de um filme, ou peça, pode fantasiar sem limites, bastando alegar que é arte?

O artigo 208 do Código Penal proíbe “vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”. E Jesus Cristo é, figurativamente, um “objeto de culto religioso”. Não teria sentido a lei proibir o vilipêndio de uma simples imagem, em gesso, de Cristo, mas permitir o vilipêndio, muito maior, da própria pessoa representada na imagem.

Não sei se na peça — que não assisti —, Cristo aparece com algum trejeito indicativo de sua condição de transgênero. Mesmo que ele apareça sempre de modo altivo, nobre, respeitável — não se justifica que a peça o apresente como pessoa que, por milênios, não foi mencionado como parte do grupo minoritário, ainda aceito com alguma reserva no país e no mundo. A intenção da peça foi, claramente, de apenas atrair o público. Uma forma de propaganda grátis de um empreendimento tecnicamente cultural, sem se importar com as consequências: a sensação de ofensa sentida por de milhões de cristãos. Sensação protegida pela lei.

Assunto paralelo e aqui resumido: quanto à decisão do Santander Cultural de Porto Alegre de cancelar a exposição do Queermuseu, vi, na internet, alguns quadros. Entre eles um menino ou rapaz negro praticando, simultaneamente — de modo voluntário ou espontâneo —, sexo oral e anal com dois homens brancos. Se o autor do quadro queria simbolizar a humilhação de uma raça não poderia expressar a opressão de um modo menos vulgar? Como pode isso aparecer em um museu, visitado por meninos e adolescentes, ali levados por seus professores?

O Santander Cultural, surpreendido com a revolta contra alguns quadros — foram poucos — poderia simplesmente retirá-los imediatamente da exposição, mas se assim agisse o Museu alegaria abuso da censura, escolhendo tais e quais quadros e não outros. Para evitar infindáveis polêmicas de escolha decidiu usar de seu direito de cancelar a exposição inteira. Direito seu.

Alguns juristas e membros da cúpula do Judiciário costumam pronunciar-se irrestritamente a favor da liberdade de imprensa e de espetáculos. Mas se algum bilionário rancoroso, irresponsável e mentiroso — longe do Brasil e disposto a tudo — se atrevesse a anunciar o lançamento de algum filme, livro ou peça descrevendo-a — toda a cúpula — como ridícula e corrupta vendedora de decisões, pode-se apostar que a “obra artística” seria imediatamente interditada, por ordem judicial, mesmo se redigida e representada pelos melhores artistas do planeta. A forma seria realmente “artística”, mas a intenção, o fundo, seria a de avacalhar um Poder que não pode deixar de zelar pela sua reputação. Somente um magistrado extremamente tolo, ou ébrio, aceitaria a desculpa esfarrapada. Não existe direito absoluto. Seu abuso, doloso ou culposo, já não será direito.

Para encerrar, esclareço que não tenho religião, mas respeito, admiro e considero o Cristianismo uma doutrina que procura extirpar o máximo possível do egoísmo e animalidade residual do ser humano, merecendo total respeito de todos. Inclusive dos artistas.

Francisco Pinheiro Rodrigues (23-09-2017) 




     

Nenhum comentário:

Postar um comentário